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Envelhecimento e filosofia

  • Foto do escritor: Guilherme Berlanga
    Guilherme Berlanga
  • há 5 dias
  • 5 min de leitura

Autor: Guilherme Berlanga Moura   Introdução  Ao longo do percurso da filosofia, é cabível dizer que pouco fora explorado um estágio de conquista essencial para todo ser humano: O envelhecimento. Adentrando nesta ausência de conteúdo literário e filosófico, cabe-se as palavras a seguir encontrarem reflexões contemporâneas sobre uma circunstância humana por vezes negligenciada pela filosofia.  Daí, inicialmente, o que aqui é tomado como premissa é a liberdade extrema do indivíduo, proferida por Sartre. Em seus próprios termos: “O ser humano está condenado a ser livre”. Todavia, tendo-o como base, não entendo no cerne da psique humana estes termos de forma literal. Neste caso, entendo-a como uma liberdade existente, porém não percebida, o que nos faz aderir as dinâmicas sociais por não haver uma observação interna do próprio individuo em todos os seus entes muitas vezes. Dentre tantas dinâmicas envolvidas, uma delas que é inegável sua colocação visível na sociedade é o estereótipo, que no contexto do ato envelhecer se mobiliza a mencionar que aqueles que são mais velhos, e, portanto, estão mais a frente no processo de envelhecer, são todos homogêneos em quesitos de comportamento. “Irascíveis”, “caducos”, “cabeças duras”, e muitos outras infelizes palavras são mencionadas. Porém, tal como Cícero - o filósofo de Roma – dizia: O envelhecimento não é igual para todos. Destoando-me de termos científicos, por agora, e observando a construção do indivíduo, percebo que a mente é o pilar fundamental de tudo, capaz de ora significar, ora distorcer, tudo aquilo que os sentidos corporais alcançam. Assim, retomando a premissa anterior de que muitas vezes não olhamos para nós mesmos e nos indagamos sobre aquilo que raciocinamos, isto aplica-se aqui; uma vez que ao pensarmos que a mente é quem nós condenamos, ela também é capaz de acatar a estes estereótipos, e viver atolada a uma fraqueza. Dado estas informações, os estereótipos realmente são coesos? Como aqueles mais à frente no envelhecimento podem alocar-se em nossa sociedade?   Posição social daqueles à frente Ao observarmos as circunstâncias atuais, sem quaisquer dúvidas ou indagações, é que, aqueles à frente – os idosos, com maior vivência –, vivem de forma separada dos demais. Analisando esta situação, é demasiadamente propenso questionar-me: No campo das proposições, tal manifestação socioespacial, é devidamente correta? Presumo que esta seja falsa. Ora, se levarmos em consideração a experiência como fundamental para construção de conhecimento, ela faz com que necessitamos do amparo daqueles que estão à frente. Portanto, se necessário ele é separado não deve ser. Adentrando diante deste silogismo, é perceptível que as condições dos à frente não se encontra boa: Constantemente, são privados de muitos de seus direitos condicionais e pré-condicionais. E, sendo eles privados destes direitos, não é possível que muito daquilo que os anciões deveriam fazer seja então efetuado. Destarte, a posição social dos idosos é degradante, adoecedora, e excludente.       Anceios humanos e a repulsa do envelhecer  Percebo aqui, que está repulsa dos seres humanos ao envelhecer parte do nosso anseio de vivermos a ideia de que para sempre mantermo-nos nas mesmas condições; basicamente, como jovens, alegres, saltitantes. Até porque, é mais fácil procurar sentido onde não tem, e ignorar a representatividade do tempo (como já dizia Schopenhauer) do que visualizar a si mesmo de forma multifacetada. Sustentamos um apego a uma matéria desprovida de quaisquer referências, e ignoramos completamente que é a apreciação de pequenos momentos que compõe a aquarela do ser humano. Ideologias, religiões, crenças, tudo é subvertido a uma utilidade, isto é, o quanto quero, o quanto posso, e o quanto devo, e, assim, não deve ser. A fase maior, aquela que vem ao fim da vida, deve ser uma vitória, um ganho, um registro de que o sopro da vida pode ser cumprido. Jamais poderemos escapar deste ciclo. Presumo, então, que a única escapatória de repente pode ser desmitificar aquilo que é convencionado. Pois, aprendemos que a fase maior é negativa, aprendemos que devemos nos ocupar no aqui e agora com aqueles malditos ciclos, e não compreendemos que é do pequeno que o grande se forma, que é do pouco que o muito comprime; ou seja, a partir das pequenas experiências que contamos com quem somos, e, afinal, o todo, é a maior dadiva do ser humano. Todavia, se podemos aprender que algo é ruim, ele pode então vir a ser bom. Associamos uma falsa essência a nós mesmos, e, repensar nossa ontologia é necessário, para então ser possível inspirar um agora da forma correta.    Coletividade e subversão: Ubuntu e nós   Agora que pensei no que é necessário certa vez superar, devo olhar os fatos como são, sem me prender a um encantado mundo de ilusões e amargas ideias de onde nada ali há. Nestes termos, analisando em termos objetivos, oriento-me ao que há. E ao orientar-me, enxergo uma sociedade ubuntu como exemplo de coletividade. E o ubuntu, exibe que a ideia de “essencial” material pode ser quebrada. Além deste exemplo, todos os inúmeros processos de formações de culturas demonstram isto.  Por conseguinte, questiono se existe mesmo tal ontologia, ou se tudo não fora dialética pensada por nós? (Já dizia Sartre) E mesmo que haja tal ontologia, seria ela então, imutável, e como um grande oceano com vários rios que dão fim ao mesmo local. Ao finalmente olharmos aos que a frente estão, através do espírito coletivo, por boas práxis, desejos, anseios, e, sobretudo, uma emancipação do espírito, podemos repensar em incluir os idosos. Como? Já não há mais espaço excludente, temos uma comunidade que predomina em uma arquitetura homogênea.  Já não há mais perniciosidade, pois outrora, as convenções trocaram suas faces; implicando então, que ‘desconvencionalizamos’ aquilo que é uma pura convenção, mas que, por um púlpito da vida, dizemos natureza ser.  Entendo que, para que os idosos possam alcançar a dadiva maior da vida, é necessário construir a cultura da glória do trajeto. Ela é, a presunção que o amor a circunstâncias - ou amor fati – nos orienta a uma vitória final. Para que por fim ela seja, mudar o imutável é necessário. O tempo pode talvez no fim de tudo ser uma enorme roda, não uma linha reta que ali está pronta. A força, o aspirar ao micro, é a maior demonstração de capacidade que somos capazes de demonstrar, e é somente no caminhar que possível ela é. Se concluído este caminhar for, por que excludente ele deve ser? O que é doença para alguns, é a glória de outros – para aqueles que dirão da fisionomia. Logo, se um à frente ou mais tem-se, é porque ele demonstra a vitória, e a superação de um ciclo. O maior fundamento que devemos ter é o seguinte: Observar um à frente, um idoso, é observar que ele é resultado de um eterno retorno. Ao mesmo tempo que incluído ele deve ser, os atrás devem se questionar, tal como Nietzsche: Se minha vida fosse para ser vivida em loop eterno, eu ficaria feliz pelas minhas escolhas, ou deprimido? É sobre isso a inclusividade dos idosos, para que mesmo os a frente possam continuar a construir escolhas mesmo quando aquilo que travestido de “natural” está o contrário diz. Considerações Finais Ao final deste texto, esperasse que leitor possa compreender os conceitos do envelhecimento (um campo tão pouco explorado no conhecimento)... com isso, possa entender que o evelhecimento é um esteriótipo muitas vezes. Afinal, vivemos como se fosssemos jovens. Mas, todavia, digo-lhes: Que tal invertemos a lógica? Visto que, muito em breve, nossa civilização se tornará majoritariamente idosa.

 
 
 

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